Sobre cachos e expressão de gênero, por Haísa Lima

Meu cabelo já passou por muita coisa, o que inclui alisamento, pintura, dreads, tranças e alguns BCs. Mas a fase popular do meu cabelo foi até pouco tempo atrás, quando ele estava grande, cheio – e feminino. Era bonito mesmo, não posso negar.

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Acontece que eu venho “me descobrindo” em novas performances de gênero. Pode-se dizer que o estilo no qual me encontrei é o que as pessoas chamam de “tomboy” – meninas que se vestem de maneira mais masculina, cujo resultado é uma estética andrógina.

Recentemente, considerando um grande desejo de adequar o estilo do meu cabelo ao meu estilo indumentário (e também procurando por mais praticidade, já que moro na Bahia, que é quente pra caramba), fui fazendo alguns cortes – para desespero das pessoas à volta. Primeiro fiz um chanel, que ficou muito bacana, mas ainda não era o que eu queria, pois acentuava exatamente essa feminilidade da qual eu queria fugir.

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Em seguida, fui a um barbeiro e pedi que ele fizesse o clássico “joãozinho”, mas num comprimento que preservasse os cachinhos. E zaz, achei o cabelo que eu queria. Fiquei realizada!

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Acontece que as pessoas à volta não curtiram. Existe uma cobrança social acerca do binarismo de gênero, segundo o qual, se você é menina, deve ter cabelo feminino, entre outras coisas, e vice-versa. Se fosse o meu irmão com o mesmíssimo corte, as pessoas achariam normal e bonito. Mas o que eu ouvi foi um monte de críticas – sinceras e implícitas -; a maioria negativa.
E o fato é que o cabelo curto, ainda assim, nada tem a ver com gênero. Estamos cansadxs de ver mulheres de cabelos curtos, homens de cabelos longos, todos os tipos de pessoas com todos os tipos de cabelo. Infelizmente, a grande maioria das pessoas segue padrões estéticos que estão postos como “legítimos”, os seguem fielmente, e julgam negativamente a quem está fora desses padrões.
Mas como meu bem-estar pertence só a mim e mais ninguém, não me deixo abalar. Eu nunca me senti tão bem, e descobrir a mim mesma depois de quebrar tantos preconceitos (principalmente os meus próprios) é libertador. Estou me amando mais do que nunca, com cachinhos curtos ideais para receber um cafuné de quem me tiver afeto recíproco. =)

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Blog Comments

Acho que o corte tem haver mesmo com o seu momento, RESPEITO é bom e td mundo merece ter. Padrões, culturas… é tudo muito subjetivo assim como certo e errado. O que é bom pra mim, pode não ser pra o outro. Então vai ser natural sempre esse ” choque” quando algo não esta conforme os padrões, cultura, e o que a sociedade dita… É só saber se impor e que independente de como vc é, as pessoas vão continuar a gostar, amar vc. Pq o que importa mais é a sua essência^^

Eu sempre quis cortar meu cabelo assim! Mas infelizmente minha mãe nunca deixou. Agora não quero mais, estou gostando do meu estilo mais feminina e o cabelo cacheado de comprimento médio me deixa mais feminina ainda. Nunca tinha ouvido falar no tomboy, se soubesse disso ha uns anos atrás eu teria me poupado de muitos problemas. Sempre gostei de me vestir de forma mais masculina, tanto que até hoje minha mãe fala que eu só gosto de “camisas de gola e manga”, aquelas camisas de homens mesmo sabe? Tenho várias, e mesmo ainda usando, agora já não são as únicas que gosto. Também só usava bermudas, e meu pai só me dá bermudas até hoje (pais são os grandes incentivadores do “tomboy”, mesmo sem perceber).

O choque é natural. Toda quebra de paradigma gera isso. Só não se deixe abalar. O importante é ser feliz e se aceitar seguindo o estilo que for.

Lindo comentário, Marina <3

Que texto bacana! Parabéns por trazer estas discussões para cá. Sou professora de cursos de licenciatura de uma Universidade em meu Estado e certamente usarei seu escrito como parte das conversas com xs professorxs em formação. Abraço

Que legal, Marina!
Ficamos muito felizes e honradas. A Haísa Lima é uma leitura muito querida e quando nos pediu para postar o texto não exitamos, pois é um tema ainda pouco discutido em nossa sociedade. Se quiser conversar com ela, nos avise que fazemos o intermédio!

Abs!

Mesmo não me identificando com o seu estilo eu ameei sua atitude. Mostrar quem você é e quebrar seus preconceitos foi um ato lindo! Você não está ferindo a ninguém, só sendo você mesma, e é isso que importa! Quando cortei meu cabelo curtinho tbm recebi muuuitas críticas, assim como muitos elogios, mas não fez diferença alguma pois pra mim eu estava(e estou) me sentindo linda!! Ontem mesmo, minha tia chegou aqui em casa e a primeira coisa que disse quando meu viu foi: “O que você fez com seu cabelo??? Não gostei!”. Só olhei pra ela e disse: “obrigada mas a única que tem que gostar sou eu”. Depois disso ela veio tentar explicar o comentário, mas realmente…isso não me incomoda nem enfraquece, pois eu estou ME AMANDO! Continue assim,sendo você! Podes crer que está linda!

Está certíssima, Raíssa!

Você falou por mim, Haísa. Faz alguns anos que aderi ao estilo tomboy, sofrendo por causa das roupas, calçados e do cabelo. Se eu vou comprar uma roupa todas as pessoas da loja ficam olhando pra mim, cochichando e algumas até já chegaram ao ponto de perguntar se eu sou lésbica (sendo que sou hétero convicta) ou porque eu não estou na seção feminina, as meninas não gostam de falar comigo e os meninos não “chegam” em mim, e o pior, o preconceito maior está na minha casa, minha mãe e meu irmão simplesmente não aceitam que meu estilo é esse e pronto, achei que ela fosse me botar pra fora de casa quando cortei o cabelo curtinho pela primeira vez, meu maior aliado foi o meu pai, ele sempre me apoiou quando o assunto era “estilo”. Adorei o que você fez, quebrou esse bendito tabu de que mulher pra ser mulher tem que usar saia de babadinho e ter cabelo comprido, você está linda, porque a beleza vem mesmo é quando a pessoa é ela mesma.

Oi, Nirvana!
Parabéns por lutar contra todos os preconceitos! Não é fácil, mas ser quem a gente realmente É, é o melhor presente!
Conte sempre com o Cacheia!
Beijos!

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